quarta-feira, 29 de abril de 2009

45. Com outros olhos

45. Com outros olhos

Na calada de uma noite de sábado para domingo, ela acordou calada mas preferiu não abrir os olhos até o tocar do despertador, às 04 horas, como colocou na manhã anterior, quando finalizou todo o planejado e iniciou a execução do que ocorreria exatamente duas horas após o levantar.

4:30, já tinha tomado banho e café, frio, p gás acabou. De roupa com cor predominante escura e sem estampas, já com os óculos em face, destrancou a porta de acesso ao quintal e começou, pé ante pé, a sair em direção à grama que circundava o quintal quase todo.

Não pude fazer nada quando percebi o que ocorria, ainda não tinha dormido e não pude deixar de ouvir os passos pela casa, me assustei com um barulho de faca caindo no chão, mne dirigi à janela e observei silencioso pelo vidro pouco embaçado, na grama ela sentou-se e começou a se contorcer, extasiado fitei-a com um pensamento confuso e meio assustado.

Próxima à parede ela levantou a perna, como num chute, e fixou-a nos chapiscos, pareceu uma espécie de alongamento quando ela repetiu o movimento com a outra perna.

- Meu Deus! Ela se deitou no chão, o que ela pretendia com aquilo? Eu estou vendo sair abdominais? Agora flexões? Uha!

Comecei a descer as escadas o mais rápido e silencioso que pude, não queria ser notado, cheguei à cozinha e percebi a faca caída no piso agora não mais tão limpo quanto antes, saltei a janela que dava para o quintal, com voracidade, em um golpe rápido e certeiro. Fiz pouco barulho e ainda consegui me camuflar atrás de uma árvore grossa, a única dali na verdade.

Em pensamento julguei necessário que eu a surpreendesse com um estrondo súbito. Levantei-me com o máximo de barulho que pude, consegui assustá-la, num grito de terror ela me olhou com os olhos ardendo em ódio e vomitando sobre mim os piores palavrões que eu já ouvi, alguns foram até novos a meus ouvidos.

Em tom alto e com um olhar aparentemente nervoso eu disse em berros:

- Você sujou o chão com manteiga e nem pegou a faca que continua caída até agora... Eu não limpo mais nada nesta casa!

Voltei o mais rápido que pude para o meu quarto, deitei-me e pode dormir como um anjo.

Ela terminou seus exercícios e tomou a faca em mãos e com o olhar enfurecido dirigiu-se à pia, pegou um pano sujo e limpou a manteiga que caíra no chão.

Com o seu ódio escorrendo pelos olhos ela tomou outro banho e voltou-se ao quarto e então continuou a dormir, para, como outro anjo, acordar no dia seguinte e repetir os exercícios até conseguir emagrecer os tão sonhados oitenta quilinhos...

Só dormindo e comendo manteiga como antes ela não demoraria menos de trinta aninhos para cumprir o objetivo.

O que realmente importa é que, apesar de ter acordado no meio da noite, consegui uma ótima desculpa para não limpar mais a casa...

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