segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Brasa frígida

Seus olhos são o espelho de qualquer mar que se desmonta no luar profundo de um semblante astuto e eficaz. Sua delicadeza é flor de espinhos mortais, somos todos minguantes, pobres, imorais. Somos pedra, como querias Pedro ser, mas não era. Somos foice, somos faca embanhada, somos mar, flor e fel. A destreza é o que se desdobra à nossa frente. Somos feito um gel que se espalha, como a luz que se propaga, como as arestas que se firmam numa edificação perfeita. Somos o certo e o errado, o firmamento e as estrelas silenciosas, somos mar.

Então se acalma que o pé sarará em breve.

São os olhos ébrios de sensatez, desperdício, avareza e sopa se desenhando no orvalho delicado que se forma nas folhagens dessa noite torta. Somos selvagens a alcançar o abismo, somos as pétalas desencontrando a flor, somos o vento que toma os cabelos e derrete as entranhas com vodka e limão caldaloso. Somos a parte que falta no todo para que o todo deixe de ser parte e passe a ser o que nunca deixou de ser, um todo e completo tudo.

Por enquanto seja seria, não molhe as pernas ou apresentarás a cauda.

Ou federá como fedem os mortos no sepulcro.

Só basta-me um gole de amor e um beijo de purê com cerveja pra que tudo seja como deve ser, pra que tudo esteja como deve estar, pra que o todo se complete em mim, que sou nada além de parte, e vida sem termo mediato demonstrado às claras. Sou o martir de qualquer destino meu.

Só no ar há menos dor que na pedra do bronze escalado.

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