quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

70. Não sei bem certo...

70. Não sei bem certo...

Penso que ainda durmo, estou acordado, ainda não abri os olhos. Não pretendo abri-los. Começo a me lembrar da pedra que me foi lançada, não tive astúcia, meu coração vê-se nocauteado, meus sentimentos se desdobram, minha razão, minha emoção, nada mais existem. Tudo é caos de agora em diante, tudo são trevas, escuridão toma posse de mim, nada mais vejo, apenas o nada. O frio se confunde com o fogo, o gelo esquenta meu coração ardente. Estou triste, tenho dor, estou confuso.

Choro, não tenho lágrimas, me despeço correndo ao seu abraço, aí fico. Não me movo, calado, só ouço meus soluços.

O vento me toca, com ele voo, minhas asas começam a se abrir, imagino um sorriso no canto da minha boca, meus cabelos batem em meu rosto, de braços abertos sinto o vento me tocar, me arrepio, meus lábios, antes secos, se tornam um rio, minhas mãos, antes tremulas acariciam o vento, eu apenas subo, quanto mais subo, mais desejo a queda, mais espero o fim, meu medo volta, se antes em dança com os céus, mais em baixo vejo o mar.

Meus dedos tocam a água, ainda consigo me manter em voo. É mais forte do que eu, o sal, a água, gritos que ouço, as ondas me tocam, o frio da água me estremece, estou esperando o momento certo, sinto que vou descer, mas quanto mais irresistível, quanto mais desejo ouvir um convite de suas ondas, maior é meu medo, mais insuportável é a vontade de me jogar, não consigo, não posso...

Lembro-me bem, era noite, como em todos os dias, uma luz reluziu ao longe, passou por mim, veloz, tão rápida que nem pude ver, nada fiz, apenas esperei. A cada flash de lembrança crio uma imagem, um som, uma nova ilusão. Não sei quem sou, não sei o que era, mas nada existia que eu quisesse mais, nada existia que eu quisesse, nem menos, nem mais, nem nada.

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